Março 30, 2021

Bacalhau o nosso ‘fiel amigo’

Diz-se que fomos o primeiro povo a introduzir este peixe que é hoje universalmente conhecido, na nossa alimentação. Diz-se também que português que é português não dispensa um bom prato de bacalhau preparado com os melhores ingredientes e são dezenas as combinações que a nossa gastronomia oferece, agradando a todos os gostos.

Os portugueses descobriram o bacalhau por volta do século XV, época das navegações e tempo das grandes descobertas. Nessa altura procuravam produtos que não fossem perecíveis e que suportassem longas viagens. Após várias tentativas com diversos tipos de peixes da nossa costa, descobriram, em 1947 na Terra Nova (Canadá), o bacalhau, encontrando assim a solução para uma alimentação saudável durante as longas jornadas no mar. O bacalhau foi então apelidado de “fiel amigo”, por estar sempre presente e nunca faltar por não se deteriorar.

Como era mais barato e de maior duração que os peixes habitualmente consumidos pelos portugueses, rapidamente o seu consumo se propagou pela população, tornando-nos no maior consumidor de bacalhau a nível global.Alguns registos indicam que em 1508 o bacalhau correspondia a cerca de 10% do pescado comercializado no nosso país.Em 1596, no reinado de D. Manuel, era cobrado o dízimo da pescaria efectuada na Terra nova nos portos de Entre Douro e Minho.

Nesta altura também já se pescava o bacalhau na costa africana.O bacalhau passava assim a fazer parte dos hábitos alimentares portugueses, sendo ainda hoje uma das principais tradições gastronómicas do nosso país. Somos o primeiro importador do mundo de Bacalhau da Noruega (reconhecido pela sua qualidade, textura e sabor únicos), o que faz com que este peixe tenha sido apelidado por nós de “fiel amigo”. Um termo carinhoso que transmite bem a ideia do papel do bacalhau na alimentação dos portugueses.

Bacalhau é o nome comum de várias espécies de peixes classificadas em vários géneros, em particular no género Gadus. Dentre as várias espécies de peixes comercializados como bacalhau destacam-se duas: a Gadus morhua, que habita as águas frias do Oceano Atlântico, nas regiões do Canadá e do Mar da Noruega e a Gadus macrocephalus que habita o Oceano Pacífico na região do Alasca. O bacalhau considerado «original» ou «verdadeiro» é o encontrado no mar Atlântico, ou seja o Gadus morhua. O Gadus vive nos mares frios do norte, sendo geralmente de tamanho pequeno, embora alguns exemplares possam chegar a pesar 100 kg e medir pouco menos de dois metros. Na verdade o tamanho do bacalhau é usado para a sua classificação desde o bacalhau miúdo (com menos de 0.5kg) até ao bacalhau especial Jumbo (mais de 4.5kg). Gadus morhua é um predador que se alimenta de crustáceos na fase juvenil e de outros peixes quando adulto. Segundo a UICN, esta espécie está catalogada como vulnerável devido à sobre-exploração de algumas zonas de pesca, como o Atlântico noroeste (costa do Canadá).

O bacalhau está tão presente na cultura portuguesa que é mesmo usado em expressões populares como “ficar em águas de bacalhau” que significa “ficar sem efeito/dar em nada” ou ainda “dá cá um bacalhau” que significa um “aperto de mão/cumprimento”.

O bacalhau tem uma enorme importância na gastronomia portuguesa e há quem lhe chame de «fiel amigo» dos portugueses. Diz-se que há mais de 1000 receitas com bacalhau!! Não é à toa que os portugueses são os maiores consumidores de bacalhau da Europa. E hoje, vamos mostrar-vos um pequeno petisco, ótimo para apreciar em qualquer altura do ano e muito prático para levarmos num piquenique ou para recuperarmos forças enquanto aproveitamos um belo passeio ou caminhada pela Natureza!

“Os meus romances, no fundo, são franceses, como eu sou, em quase tudo, um francês – excepto num certo fundo sincero de tristeza lírica que é uma característica portuguesa, num gosto depravado pelo fadinho, e no justo amor do bacalhau de cebolada!”
Eça de Queiroz (carta a Oliveira Martins)